sexta-feira, 22 de abril de 2011

Conto da Carochinha


Era uma vez... numa terra muito distante vivia uma princesa em seu castelo de areia, cheia de afazeres e obrigações, carregava no peito um coração carente e sonhava com seu príncipe encantado. Vendo a vida passar e cansada de esperar, num belo dia ela resolveu procurá-lo colocando um anúncio" Procura-se um príncipe!" com o nick de Beija-flor, foram muitos os candidatos, todos os dias dezenas e dezenas de emails, uns novinhos demais, outros já passadinhos, uns bonitinhos, outros feinhos, uns moravam longe, uns românticos, outros uns brutamontes, levou alguns dias para a seleção e o escolhido foi o mais fortão, um lindo italiano saradão, com barriga de tanquinho e  músculos de montão. Parecia-lhe um touro. Outros apareceram, mas o coração dela andava cansado de voar de flor em flor sem encontrar seu amor. Dentre todos os outros pretendentes, um sapo chamado Renato insistente, pareceu-lhe muito amigo, era só sorrisos, tornou-se muito presente, o seu melhor confidente, sem mostrar o rosto, se gabou do documento, tentou impressionar a sua lindinha Beija-flor, a todo momento, ele a tratava feito uma rainha. Ela gostava do seu carinho, mas nenhuma atração física sentia, ela não mentia. Ele se escondia atrás de longas madeixas e uma barba mal feita pra esconder sua baixa auto-estima anfibiana. Depois de meses de cumplicidade e cada vez mais apaixonado o sapo Renato veio ao grande encontro, se olharam, se tocaram, ele não escondia sua ansiedade e felicidade, num frisson de emoção, o coração pulando, o chão não alcançando mais os pés, sentaram para tomar um café, ele trémulo deixou o açucar cair no pé. Conversaram, cantaram Sampa mascando um chiclé, e ao jogar ele juntou os dois gomos e fizeram um pacto, ele amassou, apertou bem até se fundirem e disse: " assim como esse chiclete agora está, nós nunca vamos nos separar" Quando tentar separar um, o outro pedaço vai junto e a partir de então começou a terrível maldição. Condenados pela eternidade eles estavam. O feitiço do sapo naquele momento se quebrou e num belo príncipe ele se transformou. No principe até então sonhado e perdidamente apaixonado, trocaram juras eternas. Deu um trato no visual, arrumou a beca, encheu de charme e coisa e tal, ela se tornou la belle femme, com um brilho todo especial. Viveram por muito tempo num barco de papel furado, oscilando com as ondas, lutando pra não afundar, cresceram juntos, desbravaram um mundo colorido e doído, felizes, brigando, sonhando, aprendendo, sofrendo, chorando, superando, mas prestes a naufragar a qualquer instante, ela de medo queria pular, voltar pro seu castelo de areia em ruínas e lhe dava pontapés no traseiro o tempo inteiro. Cada vez mais o barquinho se distanciava da margem, já em alto mar veio a onda do destino que os separou. Ela não tinha mais como voltar, ficou ali a naufragar, quando um anjo caiu do céu, estendeu lhe a mão e proteção, e por dias lhe fez companhia, naquela sua vida vazia...  assim a bela história da Carochinha acabou. Ela nunca mais voltou a acreditar nos contos da Carochinha e o sapo encontrou um outro Beija-flor, cujas penas e longo bico a antiga amada lhe lembrou, coaxou no seu ouvido doces gemidos e se gabou de ter vivido, e continuou pulando e pulando de um lado pro outro...guebec...guebec...guebec...guebec...guebec...

Um comentário:

  1. Adorei seu Resmungo. Fácil foi entender as entrelinhas do seu ser, do seu ponto de vista.

    "...Os que madrugam no ler, convém madrugar também no pensar.
    Vulgar é o ler;
    raro, o refletir."

    ResponderExcluir